A cor dos solos é a sensação visual que
se manifesta na presença da luz e, de certo modo, reflete a quantidade de
matéria orgânica, o tipo de óxido de ferro presente, além da classe de drenagem
do solo (PRADO, 1995). Relatos antigos de filósofos gregos e romanos evidenciam
que desde aquela época os solos eram classificados pela sua coloração, sendo
assim um dos métodos mais antigos de identificação dos solos. Como essa
propriedade está intimamente ligada a características como o material de origem
do solo e as condições climáticas predominantes, nessa época, associava-se a
cor dos solos com a sua produtividade. Hoje, com o surgimento de metodologias
para o estudo do solo não se estima mais
a fertilidade de um solo apenas pela sua coloração, pois sabe-se que outros atributos como matéria orgânica
e a mineralogia são mais precisos. No entanto, isso não torna menos importante
o estudo da cor dos solos, visto que esta propriedade está intimamente
relacionado aos constituintes do solo, principalmente à presença de óxidos de
ferro e matéria orgânica, sendo, portanto, a cor, um importante indicador da
composição e da gênese do solo. Podemos ainda considerar, que a avaliação da
cor ganha destacada importância, na classificação de solos, onde muitos
sistemas classificação as utilizam como atributo separador das unidades de solo
(FAO, 1989; SOIL SURVEY STAFF, 1988). No Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (EMBRAPA, 2006), a cor determina o nome de ARGISSOLOS, LATOSSOLOS e
Nitossolos no segundo nível categórico.
A cor do solo é função, principalmente,
da presença de óxidos de Fe e matéria orgânica, além de outros fatores, tais
como: a umidade e o material de origem (FERNANDEZ; SCHULZE, 1992). Solos com
cores escuras são caraterísticas de horizontes superficiais e em alguns
horizontes subsuperficiais (iluviação) com alto teor de matéria orgânica Solos
de cores vermelhas, amarelas e brunadas são atribuídas à presença de óxidos de
ferro, enquanto que a presença de cores acinzentadas está relacionada aos
ambientes hidromórficos onde ocorrem redução e remoção dos óxidos de ferro. As
cores avermelhadas são atribuídas à presença de hematita e índices de
avermelhamento são propostos para quantificar este óxido de ferro em solos (BARRON;
TORRENT, 1986). A hematita, no entanto, é menos estável que a goethita e pode
não ocorrer nos solos mais amarelados. Porém a goethita pode estar presente nos
solos bastante avermelhados, em vista do acentuado poder de pigmentação da
hematita. A hematita quando presente mesmo em pequenas quantidades consegue
mascarar até o efeito da matéria orgânica. (RESENDE, 1976). Solos ricos em
quartzo e pobres em matéria orgânica e óxidos de ferro apresentam cores claras
e esbranquiçadas (AZEVEDO; DALMOLIN, 2004). Os solos que apresentam em seu
perfil mais de uma cor são chamados de mosqueados sendo então necessário
especificar a cor da massa dominante, e designar a cor ou cores das manchas,
tamanho, nitidez e contraste das bordas das principais manchas de (MACEDO,
2006)
Com relação à drenagem, os solos podem
apresentar as mais variadas cores, podendo ser um forte indicador de ambientes hidromórficos.
Diante disso solos que apresentam coloração vermelha são típicos de áreas mais
planas e ambientes bem drenados, os solos amarelados, ocorrem em áreas
suavemente inclinadas com drenagem moderada, já os solos que apresentam má
drenagem e típicos de áreas de baixada são geralmente acinzentados ou
mosqueados devido ao intenso processo de redução do ferro sofrido por eles
Em campo, a cor do solo é determinada
pela comparação visual de amostras secas e úmidas utilizando-se a carta de
Munsell, onde será observado o matiz, o valor e o croma. O matiz tem estreita relação com as cores vermelho, amarelo e
da mistura entre ambas, e que segundo a Embrapa (2006), essa pigmentação está
relacionada principalmente aos teores de hematita e goetita do solo. O valor
está relacionado com a luminosidade do solo, onde o valor mínimo é a ausência
de luminosidade (preto) e o valor máximo a maior luminosidade (branco). O croma
representa a intensidade ou pureza da cor em relação ao cinza (MUNSELL, 1905).
Este sistema de identificação de cores é muito utilizado pelos pedólogos devido
a sua fácil e rápida aplicação em trabalhos de campo. Entretanto, métodos de
percepção visual apresentam subjetividade. Os fatores de maior efeito na
subjetividade da interpretação da cor pelo olho humano são as características
da luz incidente sobre o solo, características da superfície do solo e a qualidade
da resposta espectral do olho humano, uma vez que não são fatores controlados
(MELVILLE; ATKINSON, 1985; POST et al., 1993). A cor do solo determinada pelo
olho humano, em função de características como capacidade de interpretação da
cor e habilidade, particulares a cada observador, pode apresentar divergências
quando diferentes pesquisadores determinam a cor de uma mesma amostra de solo.
Em média, os pesquisadores tendem a superestimar os valores de matiz nas
determinações utilizando a carta de Munsell. Determinações de cor fazendo uso
de instrumentos, como colorímetros e radiômetros, capazes de interpretar a cor
de um objeto a partir de sua interação com uma fonte de luz, produzem determinações
mais exatas que a cor determinada pelo olho humano (POST et al., 1993). Kelly
& Judd (1976) relatam que um observador experiente consegue expressar sua
máxima capacidade em distinguir cores, apenas em condições de laboratório, com
iluminação controlada, utilizando amostras devidamente preparadas e uma carta
de Munsell completa. Campos (2001) sugere a substituição dos métodos
convencionais de leitura de cor feitas com a carta de Munsell pela utilização
de instrumentos mais avançados, tais como, o colorímetro visando a obtenção de
determinações mais exatas da cor do solo.
Em geral, poucos estudos têm sido
realizados para avaliar a variação entre pedólogos na determinação da cor do
solo (POST et al., 1993). Tampouco sobre como esse atributo se relaciona com os
constituintes do mesmo. Uma melhor compreensão da relação entre a cor e os
atributos do solo deve ser buscada, sendo necessário para isso, investir no
desenvolvimento de métodos mais eficientes para a determinação da cor do solo.
Referencias Bibliográficas
AZEVEDO, A.C.; DALMOLIN, R.S.D. Solos
e ambiente: uma introdução. Santa Maria: Palotti, 2004. 100p
BARRON, V.; TORRENT, J.
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EMBRAPA
(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA). CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE
SOLOS. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro:
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mundial de suelos: leyenda revisada. Rome. 1989. (Informes sobre Recursos
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FERNANDEZ, R.N. & SCHULZE, D.G. Munsell colors of
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KELLY, K. L.; JUDD, D. B. Color: universal
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MUNSELL, A.H. A color notation. Boston: G.
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POST, D.F.; BRYANT, R.B.; BATCHILY, A.K. & HUETE,
A.R. Correlations betweem field and laboratory measurements of soil color.
Madison, Soil Science Society of Agronomy, 1993. p.35-49. (SSSA Special
Publication, 31)
PRADO, H. Solos
tropicais – potencialidades limitações, manejo e capacidade de uso. Piracicaba
– 1995. 166p
SOIL SURVEY STAFF. Soil survey manual. Washington:
USDA, 1988. (USDA
Handbook, 18).
Poxaaa até que enfim um texto bacana e muito bem interpretado. Estava penando buscando entender como a "distribuição do tamanho das partículas", segundo FERNANDEZ; SCHULZE (1992) influenciava na cor, mas você me esclareceu que se relacionava ao material de origem - que faz mais sentido e é mais entendível rs.
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