Doença é resultante da
interação entre hospedeiro, agente causal e ambiente. Diversos critérios,
baseados no hospedeiro e/ou no agente causal, têm sido usados para classificar
doenças de plantas.
Quando o hospedeiro é
tomado como referência, a classificação reúne as doenças que ocorrem numa
determinada espécie botânica. Desta forma tem-se, por exemplo, as doenças do feijoeiro,
do tomateiro, da cana-de-açúcar, etc. Esse tipo de classificação tem um caráter
eminentemente prático, pois é de interesse dos técnicos envolvidos com cada
cultura específica.
Outra possibilidade,
ainda ligada ao hospedeiro, é classificar doenças de acordo com a parte ou
idade da planta atacada. Assim, as doenças podem ser agrupadas, por exemplo, em
doenças de raiz, de colo, de parte aérea, etc.
A classificação de
doenças tomando por base a natureza dos patógenos define os grupos de doenças
causadas por fungos, por bactérias, por vírus, etc. Este sistema de
classificação tem como ponto desfavorável agregar, num mesmo grupo, patógenos
que, apesar da proximidade taxonômica, atuam de forma diferente em relação à
planta. Como evidência, pode-se mencionar o contraste entre uma bactéria que
provoca murcha (Ralstonia solanacearum, por exemplo), cujo controle
estaria mais próximo de uma murcha causada por fungo (Fusarium oxysporum,
por exemplo), e outra bactéria que causa podridão em órgãos de armazenamento (Erwinia
carotovora, por exemplo). Esta última teria, do ponto de vista do controle,
maior similaridade com um fungo causador de podridão, como Rhizopus, por
exemplo.
O processo doença
envolve alterações na fisiologia do hospedeiro. Com base neste aspecto, George
L. McNew, em 1960, propôs uma classificação para as doenças de plantas
baseada nos processos fisiológicos vitais da planta interferidos pelos
patógenos. Os processos fisiológicos vitais de uma planta, em ordem cronológica,
podem ser resumidos nos seguintes:
I - Acúmulo de
nutrientes em órgãos de armazenamento para o desenvolvimento de tecidos
embrionários.
II - Desenvolvimento
de tecidos jovens às custas dos nutrientes armazenados.
III - Absorção de água
e elementos minerais a partir de um substrato.
IV - Transporte de
água e elementos minerais através do sistema vascular.
V - Fotossíntese.
VI - Utilização, pela
planta, das substâncias elaboradas através da fotossíntese.
Assim, de acordo com
McNew, o desenvolvimento de uma planta a partir de uma semente contida num
fruto envolveria várias etapas seqüenciais, como o apodrecimento do fruto para
a liberação da semente; o desenvolvimento dos tecidos embrionários da semente a
partir das reservas da mesma; a formação dos tecidos jovens, como radícula e
caulículo, ainda a partir das reservas nutricionais da semente; a absorção de água
e minerais pelas raízes; o transporte de água e nutrientes minerais através dos
vasos condutores; o desenvolvimento das folhas, que passam a realizar
fotossíntese, tornando a planta independente das reservas da semente; o desenvolvimento
completo da planta, tanto vegetativa como reprodutivamente, graças aos materiais
sintetizados por ela.
Considerando que estes
processos vitais podem sofrer interferências provocadas por diferentes patógenos,
McNew propôs grupos de doenças correspondentes:
§ Grupo I -
Doenças que destroem os órgãos de armazenamento
§ Grupo II -
Doenças que causam danos em plântulas
§ Grupo III -
Doenças que danificam as raízes
§ Grupo IV -
Doenças que atacam o sistema vascular
§ Grupo V -
Doenças que interferem com a fotossíntese
§ Grupo VI -
Doenças que alteram o aproveitamento das substâncias fotossintetizadas
Esta classificação é
conveniente pois, apesar de diferentes patógenos atuarem sobre um mesmo processo
vital, o modo de ação dos mesmos em relação ao hospedeiro envolve procedimentos
semelhantes (Tabela 1). Assim, diversos fungos e diversas bactérias podem
causar lesões em folhas; a doença provocada por estes patógenos, porém, interfere
no mesmo processo fisiológico vital, ou seja, a fotossíntese. Em adição,
doenças pertencentes a um mesmo grupo apresentam características semelhantes
quanto às diversas fases do ciclo de relações patógeno-hospedeiro, não raro
apresentando idênticas medidas para seu controle.
Finalmente, este
sistema de classificação permite, também, uma ordenação dos agentes causais de
doença segundo os graus de agressividade, parasitismo e especificidade (Fig.
1). Assim, de um modo geral, à medida que se caminha do grupo I para o grupo
VI, constata-se menor grau de agressividade no patógeno, maior grau de evolução
no parasitismo e maior especificidade do patógeno em relação ao hospedeiro. Em
relação à agressividade, os patógenos dos grupos I e II apresentam alta capacidade
destrutiva, pois em curto espaço de tempo provocam a morte do órgão ou da
planta atacada; são organismos saprofíticos que, através de toxinas, levam,
antes, o tecido à morte para, depois, colonizá-lo. Quanto à evolução do parasitismo,
os patógenos encontrados nos grupos V e VI são considerados mais evoluídos, pois
convivem com o hospedeiro, não provocando sua rápida destruição; ao invés de
toxinas, estes patógenos, geralmente, produzem estruturas especializadas em
retirar nutrientes diretamente da célula sem, no entanto, provocar sua morte imediata.
A especificidade dos patógenos em relação ao hospedeiro também aumenta do grupo
I para o VI. Nos primeiros grupos é comum a ocorrência de patógenos capazes de
atacar indistintamente uma grama de diferentes hospedeiros; por outro lado, nos
últimos grupos estão presentes patógenos que causam doença apenas em
determinadas espécies vegetais. A ocorrência de raças patogênicas, com especificidade
a nível de cultivar, são de comum ocorrência nesses grupos superiores.
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